quinta-feira, 19 de março de 2009

Grécia Antiga

A Grécia Antiga


Grécia Antiga é o termo geralmente usado para descrever, em seu período clássico antigo, o mundo grego e áreas próximas (como Chipre, Anatólia, sul da Itália, da França e costa do mar Egeu, além de assentamentos gregos no litoral de outros países —; como o Egito.


Não existe uma data fixa ou sequer acordo quanto ao período em que se iniciou e terminou a Grécia Antiga. O uso comum situa toda história grega anterior ao império romano como pertencente a esse período, mas os historiadores usam o termo Grécia Antiga de modo mais preciso. Alguns escritores incluem o período minóico e o período micênico (entre 1600 e 1100 a.C.) dentro da Grécia Antiga, enquanto que outros argumentam que essas civilizações eram tão diferentes das culturas gregas posteriores que, mesmo falando grego, devem ser classificadas à parte.


Tradicionalmente, a Grécia Antiga abrange desde os primeiros Jogos Olímpicos em 776 a.C. (alguns historiadores estendem o começo para 1000 a.C.) até à morte de Alexandre, o Grande em 323 a.C. O período seguinte é o do helenismo.


Estas datas são convenções dos historiadores e alguns autores chegam mesmo a considerar a Grécia Antiga como um período presente até o advento do cristianismo, no terceiro século da era cristã. Os antigos gregos autodenominavam-se helenos, e a seu país chamavam Hélade. Nunca chamaram a si mesmos de gregos nem à sua civilização Grécia, pois ambas essas palavras são latinas, tendo sido-lhes atribuídas pelos romanos.


Índice

* 1 Geografia

o 1.1 Grécia insular

* 2 História

o 2.1 Períodos

o 2.2 Civilização minóica

o 2.3 Civilização micênica

o 2.4 Idade das Trevas

o 2.5 Período Arcaico

o 2.6 Conseqüências da colonização

o 2.7 Período Clássico

+ 2.7.1 Guerras Medo-Persas

+ 2.7.2 Guerra do Peloponeso

o 2.8 Ascensão da Macedônia

o 2.9 Período Helenístico

* 3 Sociedade e organização política

o 3.1 A cidade-estado grega

o 3.2 Esparta

* 4 Cultura da Grécia Antiga

o 4.1 Educação em Atenas

o 4.2 Jogos Olímpicos

* 5 Arte da Grécia Antiga

* 6 Religião

* 7 Filosofia

* 8 Legado da Grécia Antiga

* 9 Bibliografia

* 10 Ver também

* 11 Ligações externas


Geografia


A área ocupada pela antiga civilização grega não se identifica completamente com a área da Grécia contemporânea. Além disso, não existiu um estado politicamente unificado entre os Gregos antigos.


Situada na porção sul da Península Balcânica, o território da Grécia continental caracteriza-se pelo seu relevo montanhoso. A cordilheira dominante é a dos Montes Pindo que separa a costa oriental, banhada pelo mar Egeu, da costa ocidental, banhada pelo mar Adriático.


Na Grécia central, entre o golfo de Corinto e o mar da Eubéia, situa-se a Beócia, cuja principal cidade na antiguidade era Tebas. Os Montes Citéron separavam a Beócia da península da Ática, onde se encontram as cadeias do Himeto, do Pentélico e do Parnes.


No Peloponeso distinguiam-se também várias regiões. Ao centro, situa-se a Arcádia, uma planície rodeada por montanhas. A Lacônia situa-se na região sudeste, compreendendo o vale do Rio Eurotas, delimitado a oeste pelo Monte Taígeto e a oriente pelo Monte Párnon. No sudoeste do Peloponeso está a Messénia.


Grécia Insular


No mar Egeu encontram-se várias ilhas, que recebem o nome genérico de Espórades. As Espórades compreendem dois grupos, o das ilhas do norte e as ilhas do sul. As Cíclades, que receberam esta designação por se disporem em círculo em torno da ilha de Delos, são ilhas de pequena dimensão. Do grupo de ilhas do Dodecaneso (Dhodhekánisos, "doze ilhas", apesar de serem cerca de 160), destaca-se a ilha de Rodes.


História

Os gregos originaram-se de povos que migraram para a península balcânica em diversas ondas, com início no terceiro milénio a.C.. Entre os invasores, merecem destaque os pioneiros: os aqueus, os jônicos, os dóricos e os eólios —; todos indo-arianos provenientes da Europa Oriental. As populações invasoras são em geral conhecidas como "helênicas", pois sua organização de clãs fundamentava-se, no que concerne à mística, na crença de que descendiam do deus Heleno, filho de Deucalião e Pirra. A última das invasões foi a dos dóricos, já em fins do segundo milénio a.C..


Períodos


* Pré-Homérico (1900-1100 a.C) — Período antes da formação do homem grego e da chegada cretense e fenícia. Nessa época, estavam se desenvolvendo as civilizações Cretenses ou Minóica (ilha de Creta) e a Micênica (continental).


* Homérico (1100-700 a.C) — Quando acontece a chegada de Homero, que foi considerado marco na história por suas obras, Odisséia e Ilíada. Período que iniciou a ruralização e comunidade gentílica (comunidade na qual um ajuda o outro na produção e colheita). Só plantavam o que iriam consumir (quando a terra não estava fértil saíam em busca de terra).


* Obscuro (1150-800 a.C.) — Chegada dos aqueus, dóricos, eólios e jônicos; formação dos génos; ausência da escrita.


* Arcaico (800-500 a.C.) — Formação da pólis; colonização grega; aparecimento do alfabeto fonético, da arte e da literatura além de progresso econômico com a expansão da divisão do trabalho do comércio, da indústria e processo de urbanização. É neste período onde os vários modelos das pólis vão se constituindo, definindo assim a estrutura interna de cada cidade-Estado.


* Clássico (500-338 a.C.) — O período de esplendor da civilização grega, ainda que discutível. As duas cidades consideradas mais importantes desse período foram Esparta e Atenas, além disso outras cidades muito importantes foram Tebas, Corinto e Siracusa. Neste momento a História da Grécia é marcada por uma série de conflitos externos (Guerras Médicas) e interno (Guerra do Peloponeso).


* Helenístico (338-146 a.C.) — Crise da pólis grega, invasão macedônica, expansão militar e cultural helenística, a civilização grega se espalha pelo Mediterrâneo e se funde a outras culturas.


Civilização Minóica


A civilização minóica foi uma civilização existente nas ilhas do mar Egeu entre 2200 a.C. e 1400 a.C.. Esta civilização foi descoberta pelo arqueólogo inglês Arthur Evans, tendo o seu foco principal na ilha de Creta.

A civilização minóica teria surgido a partir de uma fusão dos habitantes de Creta com populações que se fixaram nesta ilha vindas da Ásia Menor. Os Minóicos tiveram como principal actividade económica o comércio e criaram uma civilização que tinha em grandes palácios os seus centros administrativos. Em torno dos palácios existiam casas, não sendo os palácios amuralhados. Os palácios apresentavam sistemas de iluminação e esgotos e estavam decorados com belas pinturas.


Os Minóicos já conheciam a escrita (Linear A e Linear B) e destacaram-se pelo trabalho do ouro e das gemas, bem como por uma cerâmica decorada com motivos marítimos e geométricos.


Suas terras mais férteis estavam na parte esquerda da ilha, onde se encontravam as principais cidades como Cnossos (capital) e Kato-Zacros. Apesar dos seus palácios terem sofrido com os terremotos que atingiam a região, os Minóicos prosperaram até 1400 a.C. A decadência desta civilização parece ter sido o resultado de ataques de inimigos, entre os quais se encontrariam os Micênicos.


Vale a pena destacar o papel da mulher na sociedade minóica. Ao contrário das futuras cidades, como Atenas e Esparta, onde a mulher não tinha direitos políticos e era vista apenas como uma reprodutora, a mulher Minóica era livre, podia adquirir propriedades e ser independente.

Civilização Micênica


Os Minóicos viriam a influenciar a história da Grécia através dos Micénicos, que adoptam aspectos da cultura minóica. O nome "micênico" foi criado por Heinrich Schliemann com base nos estudos que fez no sítio de Micenas, no nordeste do Peloponeso, onde outrora se erguia um grande palácio e uma das principais cidades além de Tirinto, Tebas e Esparta. Julga-se que os Micênicos se chamariam a si próprios Aqueus. A sua civilização floresceu entre 1600 e 1200 a.C.


Os Micênicos já falavam grego. Não tinham uma unidade política, existindo vários reinos micênicos. À semelhança dos Minóicos o centro político encontrava-se no palácio, cujas paredes também estavam decoradas com frescos.


Para além de praticarem o comércio, os Micénicos eram amantes da guerra e da caça. Por volta de 1400 a.C. os Micênicos teriam ocupado Cnossos, centro da cultura minóica.


Por volta de 1250 a.C. o mundo micénico entra em declínio, o que estaria relacionado com a decadência do reino hitita no Próximo Oriente[carece de fontes?], que teria provocado a queda das rotas comerciais. Sua decadência envolveu também guerras internas[carece de fontes?]. É provável que a destruição da cidade de Tróia, facto que se teria verificado entre 1230 a.C. e 1180 a.C., possa estar relacionado com o relato literário de Homero na Ilíada, escrita séculos depois.


Idade das Trevas


Dá-se o nome de Idade das Trevas ao período que se seguiu ao fim da civilização micénica e que se situa entre 1100 a.C.e 750 a.C. Durante este período perdeu-se o conhecimento da escrita, que só seria readquirido no século VIII a.C. Os objetos de luxo produzidos durante a era micénica não são mais fabricados neste período. A designação atribuída ao período encontra-se relacionada não apenas com a decadência civilizacional, mas também com as escassas fontes para o conhecimento da época.


Outro dos fenômenos que se verificou durante este período foi o da diminuição populacional, não sendo conhecidas as razões exatas que o possam explicar. Para além disso, as populações também se movimentam, abandonando antigos povoados para se fixarem em locais que ofereciam melhores condições de segurança.


Período Arcaico


O Período Arcaico tem como balizas temporais tradicionais a data de 776 a.C., ano da realização dos primeiros Jogos Olímpicos, e 480 a.C., data da Batalha de Salamina. A Grécia era ainda dividida em pequenas províncias com autonomia, em razão das condições topográficas da região: cada planície, vale ou ilha é isolada de outra por cadeias de montanhas ou pelo oceano.


A origem das cidades gregas remonta à própria organização dos invasores, especialmente dos aqueus, que se agrupavam nos chamados ghené (ghenos, no singular). Os ghené eram essencialmente comunidades tribais que cultuavam seus deuses na acrópole (local elevado). A vida econômica dessas grandes famílias era, a princípio, baseada em laços de parentesco e cooperação social. A terra, a colheita e o rebanho pertenciam à comunidade. Havia uma liderança política na figura do pater, um membro mais velho e respeitado. Diversos ghené agrupavam-se em fratarias, e diversas fratarias em tribos.


Com a recuperação econômica após o interlúdio dórico, a população grega cresceu além da capacidade de produção das terras cultiváveis[carece de fontes?]. Diante desse desequilíbrio, e procurando garantir melhores condições de vida, alguns grupos teriam se destacado, passando a manejar armas e a ter domínio sobre as melhores terras e rebanhos. Esses grupos acumularam riqueza, poder e propriedade como resultado da divisão desigual das terras do ghené, considerando-se os melhores — aristoi, em grego. Assim, foram diferenciando-se da maioria da população e dissolvendo a vida comunitária do ghené. Essas transformações sociais estavam na origem da formação da pólis, a cidade grega. A partir de 750 a.C. os gregos iniciaram um longo processo de expansão, firmando colônias em várias regiões, como Sicília e sul da Itália, no sul da França, na costa da Península Ibérica, no norte de África e nas costas do mar Negro. Entre os séculos VIII e VI a.C. fundaram aí novas cidades, as colônias, as quais chamavam de apoíkias—; palavra que pode ser traduzida por nova casa.


São muitas as causas apontadas pelos historiadores para explicar essa expansão colonizadora grega. Grande parte dessas causas relaciona-se a questões sociais originadas por problemas de posse de terra e dificuldades na agricultura.


As melhores terras eram dominadas por famílias ricas (os aristoi, também conhecidos por eupátridas - bem nascidos). A maioria dos camponeses (georgoi) cultivava solos pobres cuja produção de alimentos era insuficiente para atender às necessidades de uma população em crescimento. Uma terceira classe, que não possuía terras, dedicar-se-íam, mais tarde, ao comercio; eram chamados de thetas, marginais. Para fugir à miséria, muitos gregos migravam em busca de terras para plantar e de melhores condições de vida, fundando novas cidades. Assim, no primeiro momento, a principal atividade econômica das colônias gregas foi a agricultura. Posteriormente, muitas colônias transformaram-se em centros comerciais, dispondo de portos estratégicos para as rotas de navegação.


A Hélade começa a dominar lingüística e culturalmente uma área maior do que o limite geográfico da Grécia. As colônias não eram controladas politicamente pelas cidades que as fundavam, apesar de manterem vínculos religiosos e comerciais com aquelas. Predominava entre os gregos sempre a organização de comunidades independentes, e a cidade (cada uma desenvolveu seu próprio sistema de governo, leis, calendário e moeda) tornou-se a unidade básica do governo grego.

Conseqüências da Colonização


Socialmente, a colonização do mar Mediterrâneo pelos gregos resultou no desenvolvimento de uma classe rica formada por mercadores (o comércio internacional desenvolvera-se a partir de então) e de uma grande classe média de trabalhadores assalariados, artesãos e armadores. Culturalmente, os gregos realizaram intercâmbios com outros povos.


Na economia, a indústria naval se desenvolveu, obviamente, passando a consumir crescente quantidade de madeira das florestas gregas. O padrão de vida na Grécia melhorou acentuadamente (o tamanho médio das residências encontradas por arqueólogos aumentou 5 vezes. A expectativa de vida aumentou em vários anos (assim como a altura média, o que indica um melhor padrão de vida. A população aumentou de 600.000 no século VIII a.C. para em torno de 9 milhões, no século IV a.C.[carece de fontes?]. E tudo isso fez com que no século IV, a Grécia já possuísse a economia mais avançada do mundo e com um nível de desenvolvimento extremamente raro para uma economia pré-industrial. Apesar disso, houve concentração fundiária, em algumas cidades essa concentração levou a revoltas e tiranias, em outras a aristocracia manteve o controle graças a legisladores inclementes.


Período Clássico


Guerras Medo-Persas ou Gréco-Pérsicas - Guerras Médicas


O Período Clássico estende-se entre 480 a.C. e 359 a.C. e é dominado por Esparta e Atenas. Cada um destas póleis desenvolveu o seu modelo político (a oligarquia militarista em Esparta e a democracia aristocrata em Atenas).


Ao nível externo verifica-se a ascensão do Império Persa Aqueménida quando Ciro II conquista o reino dos medos. O Império Aqueménida prossegue uma política expansionista e conquista as cidades gregas da costa da Ásia Menor. Atenas e Erétria apóiam a revolta das cidades gregas contra o domínio persa, mas este apoio revela-se insuficiente já que os jônios são derrotados: Mileto é tomada e arrasada e muitos jônios decidem fugir para as colônias do Ocidente. O comportamento de Atenas iria gerar uma reação persa e esteve na origem das Guerras Médicas (490-479 a.C.).


Em 490 a.C. a Ática é invadida pelas forças persas de Dario I, que já tinham passado por Erétria, destruindo esta cidade. O encontro entre atenienses e persas ocorre em Maratona, saldando-se na vitória dos atenienses, apesar de estarem em desvantagem numérica.


Dario prepara a desforra, mas falece em 485, deixando a tarefa ao seu filho Xerxes I que invadiu a Grécia em 480 a.C. Perante a invasão, os gregos decidem esquecer as diferenças entre si e estabelecem uma aliança composta por 31 cidades, entre as quais Atenas e Esparta, tendo sido atribuída a esta última o comando das operações militares por terra e pelo mar. As forças espartanas lideradas pelo rei Leônidas I conseguem temporariamente bloquear os persas na Batalha das Termópilas, mas tal não impede a invasão da Ática. O general Temístocles tinha optado por evacuar a população da Ática para Salamina e sob a direção desta figura Atenas consegue uma vitória sobre os Persas em Salamina. Em 479 a.C. os gregos confirmam a sua vitória desta feita na Batalha de Platéias. A frota persa foge para o mar Egeu, onde em 478 a.C. é vencida em Mícale.

Guerra do Peloponeso


Com o fim das Guerras Médicas, e em resultado da sua participação decisiva no conflito, Atenas torna-se uma cidade poderosa, que passa a intervir nos assuntos do mundo grego. Esparta e Atenas distanciam-se e entram em rivalidade, encabeçando cada um delas uma aliança política e militar: no caso de Esparta era a Liga do Peloponeso e no caso de Atenas a Liga de Delos. Esta última foi fundada em 477 a.C. e era composta essencialmente por estados marítimos que encontravam-se próximos do mar Egeu, que temiam uma nova investida persa. O centro administrativo da liga era a ilha de Delos.


Para poder atingir o seus objetivos a Liga precisava possuir uma frota. Os seus membros poderiam contribuir para a formação desta com navios ou dinheiro, tendo muitos estados optado pela última opção. Com o tempo Atenas afirma-se como o estado mais forte da liga, fato simbolizado com a transferência do tesouro de Delos para Atenas em 454 a.C.. Os Atenienses passam a considerar qualquer secessão da Liga como um ato de traição e punem os estados que tentam fazê-lo. Esparta aproveita este clima para realizar a sua propaganda.


As relações entre as duas póleis atingem o grau de saturação em 431 a.C., ano em que se inicia a guerra. As causas para esta guerra, cuja principal fonte para o seu conhecimento é o historiador Tucídides, são essencialmente três. Antes do conflito Atenas prestara ajuda a Córcira, ilha do mar Jônio fundada por Corinto (aliada de Esparta), mas que era completamente independente. Atenas também decretara sanções econômicas contra Mégara, justificadas com base em uma alegada transgressão de solo sagrado entre Mégara e Atenas. Para além disso, Atenas realiza um bloqueio naval à cidade de Potideia, no norte da Grécia, sua antiga aliada que se revoltara e pedira ajuda a Corinto.


Esparta lança um ultimato a Atenas: deve levantar as sanções a Mégara e suspender o bloqueio a Potideia. Péricles consegue convencer a Assembléia a rejeitar o ultimato e a guerra começa. Os Atenienses adotam a estratégia proposta por Péricles, que advogava que a população dos campos se concentrasse no interior das muralhas de Atenas; os alimentos e os recursos chegariam através do porto do Pireu. Contudo, a estratégia teve um resultado imprevisível: a concentração da população, aliada a condições de baixa higiene provocou a peste que atingiu ricos e pobres e o próprio Péricles. A guerra continuou até 422 a.C. ano em que Atenas é derrotada em Anfípolis. Na batalha morrem o general espartano Brásidas e o ateniense Cléon, ficando o ateniense Nícias em condições de estabelecer a paz (Paz de Nícias, 421 a.C.). Apesar do suposto cessar das hostilidades, entre 421 e 414 as duas póleis continuam a combater, não diretamente entre si, mas através do seus aliados, como demonstra a ajuda secreta dada a Argos por Atenas. Em 415 a.C. Alcibíades convenceu a Assembléia de Atenas a lançar um ataque contra Siracusa, uma aliada de Esparta, em expedição que se revelou um fracasso. Com a ajuda monetária dos Persas, Esparta construiu uma frota, que foi decisiva para vencer a guerra. Na Primavera de 404 a.C. Atenas rende-se.


Esse foi um tempo em que o mundo grego prosperou, com o fortalecimento das cidades-Estado e a produção de obras que marcariam profundamente a cultura e a mentalidade ocidental, mas foi também o período em que o mundo grego viu-se envolvido em longas e prolongadas guerras.

Ascensão da Macedônia


O reino da Macedônia, situado a norte da Grécia, emerge em meados do século IV a.C. como nova potência. Os macedônios que não falavam o grego e não aditaram o modelo político dos gregos, eram vistos por estes como bárbaros. Apesar disso, muitos nobres macedônios aderiram à cultura grega, tendo a Macedônia sido responsável pela difusão da cultura grega em novos territórios.


Durante o reinado de Filipe II da Macedônia o exército macedônio adota técnicas militares superiores, que aliadas à diplomacia e à corrupção, vão permitir-lhe a dominar as cidades da Grécia. Nestas formam-se partidos favoráveis a Filipe, mas igualmente partidos que se opõem aos Macedônios. Em 338 a.C. Filipe e o seu filho, Alexandre, o Grande, derrotam uma coligação grega em Queronéia, desta forma colocando a Grécia continental sob domínio macedônio. Filipe organiza então a Grécia em uma confederação, a Assembléia de Corinto, procurando unir os gregos com um objetivo comum: conquistar o Império Persa como forma de vingar pela invasão de 480 a.C. Contudo, Filipe viria a ser assassinado por um nobre macedônio em Julho de 336 a.C., tendo sido sucedido pelo seu filho Alexandre.


Alexandre concretizou o objetivo do pai, através da vitória nas batalhas de Granico, Isso e Gaugamela, marchando até à Índia. No regresso, Alexandre era senhor de um vasto império que ia da Ásia Menor ao Afeganistão, passando pelo Egito. Alexandre faleceu de forma prematura (possivelmente de malária na Babilônia em 323 a.C.


Período Helenístico


Após a morte de Alexandre, os seus generais lutaram entre si pela posse do império. As cidades gregas aproveitam a situação para se livrarem do domínio macedónio, mas foram subjugadas por Antípatro na Guerra Lamíaca (323-322).


Nenhum dos generais de Alexandre conseguiu reunir o império sob o seu poder. Em vez disso, nasceram vários reinos que seguiriam percursos diferentes: Antígono fundou um reino que compreendia a Macedónia, a Grécia e partes da Ásia Menor; Seleuco, estabeleceu um vasto reino que ia da Babilónia ao Afeganistão e Ptolemeu torna-se rei do Egipto.


Sociedade e Organização Política


São inúmeras as diferenças entre a Grécia moderna e a Grécia Antiga. O mundo grego antigo estendia-se por uma área muito maior do que o território grego atual. Além disso, há outra diferença básica. Hoje, a Grécia constitui um país, cujo nome oficial é República Helênica. Já a Grécia Antiga nunca foi um estado unificado com governo único. Era um conjunto de cidades-estado independentes entre si, com características próprias embora a maioria das cidades-estado tivessem seus sistemas econômicos parecidos, excluindo-se de Esparta.


A Cidade-Estado Grega


Desde o século VIII a.C., formaram-se pela Grécia Antiga diversas cidades independentes. Em razão disso, cada uma delas desenvolveu seu próprio sistema de governo, suas leis, seu calendário, sua moeda. Essas cidades eram chamadas de pólis, palavra grega que costuma ser traduzida por cidade-estado.


De modo geral, a pólis reunia um agrupamento humano que habitava um território cuja extensão geralmente variava entre 1.000 e 10.000 km²[carece de fontes?]. Compreendia uma área urbana e outra rural. Atenas, por exemplo, tinha 2.500 km², Siracusa tinha 5.500 km² e Esparta se estendia por 7.500 km². A área urbana freqüentemente se estabelecia em torno de uma colina fortificada denominada acrópole (do grego akrós, alta e pólis, cidade). Nessa área concentrava-se o centro comercial e a manufatura. Ali, muitos artesãos e operários produziam tecidos, roupas, sandálias, armas, ferramentas, artigos em cerâmica e vidro. Na área rural a população dedicava-se às atividades agropastoris: cultivo de oliveiras, videiras, trigo, cevada e criação de rebanhos de cabras, ovelhas, porcos e cavalos. Este agrupamento visava atingir e manter uma completa autonomia política e social para com as outras poleis gregas, embora existisse muito comércio e divisão de trabalho entre as cidades gregas. Atenas por exemplo, importava 80%[carece de fontes?] de seus alimentos, incluindo 100%[carece de fontes?] de seus cereais e exportava azeite, chumbo, prata, bronze, cerâmica e vinho. No mundo grego encontramos diversas pólis, como, por exemplo, Messênia, Tebas, Mégara e Erétria.


A maioria das cidades-estado gregas era pequena, com populações de aproximadamente 20 mil habitantes ou menos na sua área urbana. Mas as principais cidades eram bem maiores, no século IV a.C., essas cidades eram Atenas, com estimados 170 mil habitantes[carece de fontes?] em sua área urbana, Siracusa, com aproximadamente 150 mil habitantes, e Corinto, com mais de 100 mil habitantes[carece de fontes?]. Esparta tinha apenas 40 mil habitantes em sua área urbana, sendo uma cidade-estado pouco urbanizada em relação às outras.


Atenas era a maior e mais rica cidade da Grécia Antiga durante os séculos V e IV a.C. Existem relatos da época que reportam um volume comercial externo (soma das importações e exportações das cidades do império ateniense) da ordem de 180 milhões de dracma sáticos, valor duas vezes superior ao orçamento do Império Persa na mesma época.


Esparta


Esparta (em grego Σπάρτη, transl. em grego moderno Spárti, em grego antigo, Spártē) é um município da Grécia, situada nas margens do rio Eurotas, no sudeste da região do Peloponeso. Foi uma das mais notórias cidades-estado da Grécia Antiga; conquistou a vizinha Messénia cerca do ano 700 a.C. e, duzentos anos mais tarde, coligou-se a seus outros vizinhos, formando a Liga do Peloponeso. Na Guerra do Peloponeso, no século V a.C., Esparta derrotou Atenas e passou virtualmente a governar toda a Grécia, mas em 371 a.C. os outros estados revoltaram-se e Esparta foi derrubada, apesar de manter-se poderosa ainda durante mais duzentos anos.

Esparta encontra-se numa região de terras apropriadas para o cultivo da vinha e da oliveira. Na Antiguidade era uma cidade de caráter militarista e oligárquico, nunca tendo desenvolvido uma área urbana importante. O governo de Esparta tinha como um de seus principais objetivos fazer de seus cidadãos modelos de soldados, bem treinados fisicamente, corajosos e obedientes às leis e às autoridades. Em Esparta os homens eram na sua maioria soldados e foram responsáveis pelo avanço das técnicas militares, melhorando e desenvolvendo um treino, organização e disciplina intensivos e nunca vistos até então.


Relativamente ao poder, Atenas era a principal rival de Esparta e foi ela que liderou as cidades-estado gregas na luta contra os invasores persas, em 480 a.C.. A Constituição de Esparta, segundo a tradição, foi escrita por um legislador chamado Licurgo, que teria vivido no século IX a.C..


Cultura da Grécia Antiga


Os gregos tinham conflitos e diferenças entre si, mas muitos elementos culturais em comum. Falavam a mesma língua (apesar dos diferentes dialetos e sotaques) e tinham religião comum, que se manifestava na crença nos mesmos deuses. Em função disso, reconheciam-se como helenos (gregos) e chamavam de bárbaros os estrangeiros que não falavam sua língua e não tinham seus costumes, ou seja, os povos que não pertenciam ao mundo grego (Hélade).

Educação em Atenas


Em Atenas, apesar das mulheres também serem educadas para as tarefas de mãe e esposa, a educação era tratada de outra forma, pois até mesmo nas classes mais pobres da sociedade ateniense encontrava-se homens alfabetizados. Eles eram instruídos para cuidarem não só da mente como também do corpo, o que lhes dava vantagem na hora da guerra, pois eram tão bons guerreiros quanto eram estrategistas.


Jogos Olímpicos


Um exemplo de atividade cultural comum entre os gregos foram os Jogos Olímpicos. A partir de 776 a.C., de quatro em quatro anos, os gregos das mais diversas cidades reuniam-se em Olímpia para a realização de um festival de competições. Esse festival ficou conhecido como Jogos Olímpicos. Os jogos olímpicos eram realizados em honra a Zeus (o mais importante deus grego) e incluíam provas de diversas modalidades esportivas: corridas, saltos, arremesso de disco, lutas corporais. Além do esporte havia também competições musicais e poéticas.

Os Jogos Olímpicos eram anunciados por todo o mundo grego dez meses antes de sua realização. Os gregos atribuíam tamanha importância a essas competições que chegavam a interromper guerras entre cidades (trégua sagrada) para não prejudicar a realização dos jogos. Pessoas dos lugares mais distantes iam a Olímpia a fim de assistir aos jogos. Havia, entretanto, proibição à participação das mulheres, seja como esportistas, seja como espectadoras.


Os atletas que participavam das competições eram respeitados pelos gregos em geral. O prêmio para os vencedores era apenas uma coroa feita com ramos de oliveira colhidos num bosque consagrado a Zeus. Mas a sua glória era imensa. As cidades recepcionavam os vitoriosos com festas e homenagens. Poetas, como Píndaro, faziam poemas em sua homenagem, e o governo erguia-lhes estátuas.


Os Jogos Olímpicos da Idade Antiga foram celebrados até 393 d.C., quando o imperador romano Teodósio, que era cristão, mandou fechar o templo de Zeus em Olímpia, para combater cultos não-cristãos. Quinze séculos depois o educador francês Pierre de Fredy, o Barão de Coubertin (1836-1937), empreendeu esforços para restaurar os Jogos Olímpicos. Sua "causa" obteve simpatia e adesão internacionais. Em 1896, foram realizados em Atenas os primeiros Jogos Olímpicos da época contemporânea. As atuais Olimpíadas, também realizadas de quatro em quatro anos, reunindo atletas de diversos países do mundo, procuram preservar o ideal de unir os povos por meio do esporte.


Arte da Grécia Antiga

Um dos mais expressivos monumentos do período antigo é o Partenon, templo com
colunas dóricas, construído entre 447 e 438 a.C. na acrópole de Atenas, e dedicado à padroeira da cidade, Athenea Párthenos. A construção foi projetada pelos arquitetos Calícrates e Ictinos, e é comandada por Fídias. Suas linhas arquitetônicas serviram de inspiração para a construção de muitos outros edifícios em todo o mundo. Religião Os gregos praticavam um culto politeísta antropomórfico, em que os deuses poderiam se envolver em aventuras fantásticas, tendo, também, a participação de heróis (Hércules, Teseu, Perseu, Édipo) que eram considerados divinos. Não havia dogmas e os deuses possuíam tanto virtudes quanto defeitos, o que os assemelhava aos mortais no aspecto de personalidade. Para relatar os feitos dos deuses e dos heróis, os gregos criaram uma rica Mitologia. Normalmente, as cerimônias públicas, mesmo de cunho político, eram antecedidas por práticas religiosas, o que reflete a importância da religião entre os gregos antigos. Mas essa religião foi superada pela Filosofia Apesar da autonomia política das cidades-estados, os gregos estavam unificados em termos religiosos. Entre as divindades cultuadas estavam: Zeus (senhor dos deuses), Deméter (deusa da terra), Poseidon (deus do mar), Afrodite (deusa do amor), Apolo (deus da luz e das artes), Dionísio (deus do vinho), Atena (deusa da sabedoria), Artêmis (deusa da caça), Hermes (deus das comunicações), Hera (protetora das mulheres) e muitas outras. Além dos grandes santuários como os de Delfos, Olímpia e Epidauro, os oráculos também recebiam grandes multidões, pois lá se acreditava receber mensagens diretamente dos deuses. Um exemplo claro estava no Oráculo de Delfos, onde uma pitonisa (sacerdotisa do templo de Apolo) entrava em transe e pronunciava palavras sem nexo que eram interpretadas pelos sacerdotes, revelando o futuro dos peregrinos. Filosofia - Filosofia greco-romana A filosofia greco-romana foi a maneira com que os antigos gregos e romanos sistematizaram, nos últimos cinco séculos antes de Cristo, uma forma de conhecimento, um modo de reflexão ou uma teoria da realidade. Esta filosofia pode ser ser classificada em dois períodos: o cosmológico e o antropológico clássico. Índice * 1 Classificação o 1.1 Período cosmológico o 1.2 Período antropológico clássico o 1.3 Decadência * 2 O período decadente e o cristianismo o 2.1 A ideologia cristã o 2.2 O triunfo histórico do cristianismo * 3 A filosofia grega – cronologia * 4 A filosofia romana * 5 Bibliografia Classificação Período cosmológico Neste estágio primitivo e rural, predominou uma explicação mitológica do universo e da origem das principais significações da realidade. Os mitos gregos são marcadamente concebidos com características semelhantes ao mundo, relações e modos de vida dos homens daquele tempo. Houve entre os gregos uma imensa tradição mitológica oral, que mais tarde foi sistematizado por Homero em suas duas grandes obras: Ilíada e Odisséia. Costuma-se classificar este primeiro período grego (primitivo, rural, tribal e mitológico) como "Tempos Homéricos", abrangendo-se até por volta dos anos 1000 a.C. Este saber mitológico "explicava", para a época e para aquele momento histórico, as principais questões da existência humana, da natureza e da sociedade. Explicava a origem dos reis, a própria origem dos homens, a origem do povo grego, das guerras, dos amores, das doenças, enfim, de toda a riqueza de sua cultura. A síntese do mito e a consciência mitológica justificam as estruturas sociais e cimentam as relações de trabalho, parentesco e política entre os gregos. Neste período, entre vários filósofos que buscavam o conhecimento do princípio material da natureza, encontram-se: Anaximandro: Procurava provar que o princípio de tudo resumia-se numa construção espiritual, invisível. Tales de Mileto: Sua filosofia consistia-se em afirmar que a origem de todas as coisas era a água. Demócrito: Para esse filósofo, as substâncias eram compostas de fragmentos invisíveis, aos quais deu o nome de átomos. Demócrito e Leucipo interpretavam o universo como um ser vazio e que agregava apenas átomos. Esses dois filósofos não diferenciavam a alma das demais substâncias, pois a entendiam como sendo também um átomo. Pitágoras: Defendia o panteísmo, que significa uma relação entre teorias matemáticas e a matempsicose ou seja, a transformação da alma. Pitágoras é considerado um dos mais importantes matemáticos, no âmbito mundial. A geometria teve sua continuidade nos estudos desenvolvidos por ele. Anaxágoras: Acreditava que o Nóus, um espírito, seria o centro do universo e que todas as coisas eram regidas por ele. Heráclito: Via no lógus, uma lei que determinava o desenvolvimento de tudo, a verdadeira transformação dos seres. Anaxímenes: Para esse filósofo, o início de tudo se encontrava no ar que, após ter passado por algumas transformações físicas, teria dado origem à criação. Zenão de Citio: Fundador da escola estóica, cujo ensinamento resumia-se no estudo de uma lei universal, a Natureza. Segundo essa lei, o indivíduo que não se adaptasse às normas de boa conduta e virtude, não teria uma condição satisfatória de vida. Empédocles: Dizia que a terra, o ar, a água e o fogo misturaram-se e deram origem às substâncias. Parmênides e Xenófones: Entendiam o ser como sendo uno; as coisas eram imutáveis, permanentes e não se desenvolviam.

Período Antropológico Clássico A filosofia, como ciência e atividade humana, no início foi produzida por homens situados em determinados momentos históricos. Nas cidades gregas, aos poucos, a filosofia vai ganhando sua identidade e tomando diferentes funções sociais. A Grécia, após ter passado pela era primitiva, tribal, e pelo período político denominado pólis, que significa cidades-estados, alcançou sua autonomia e independência; Atenas se sobressai economicamente e consegue elevar a Grécia no âmbito político e cultural. Segundo J.P. Vernant, há uma relação entre os surgimentos da filosofia e da pólis. Enquanto na mitologia a filosofia significa o "saber" da Grécia rural, de tradição oral, esparsa e popular, com a instituição da pólis essa filosofia se traduz em uma nova ideologia, uma visão melhor do mundo, mais racional e organizada. Os filósofos deste período, a começar com os sofistas, criaram uma nova temática para a filosofia: O homem. A filosofia muda de espaço geográfico, das colônias jônias para o centro cultural da Grécia, e esta mudança acarreta também a variação do objeto de pesquisa: muda-se de natureza para o homem. Há uma mudança de discurso: o discurso cosmológico e materialista passa a dar lugar a um discurso moral e político, pois na "pólis" a convivência humana precisa ser fundamentada, bem como será preciso um modelo de enquadramento social efetivo: a "paidéia", o ideal educativo. O período antropológico, com os sofistas Sócrates, Platão e Aristóteles coincide com o apogeu da democracia.


Decadência


Chama-se "decadente" ao último período da filosofia grega que coincide com a própria decadência do mundo grego depois de um apogeu político e cultural. Em síntese, a filosofia deste período não tem o brilho clássico nem propostas novas e originais. Antes, quase sempre são sistemas místico-filosóficos, sincréticos, próprios de épocas de crise estrutural como foram os dois últimos séculos antecedentes à era cristã.


O estoicismo, do grego "stoá", que significa "pórtico", aludindo aos que ficavam às portas da cidade pregando sua doutrina, é extremamente individualista. Descrente dos deuses e da "pólis", o estóico volta-se para seu mundo interior, sobre si mesmo. Exalta a igualdade humana pela "razão" como forma de superar as identidades culturais e raciais da "pólis" destruída. Levanta-se agora um cidadão universal, sem família, pátria ou obrigações. Quer buscar a completa autonomia individual - autárquica e na prática das virtudes atingir a sabedoria.


O filósofo, ou sábio estóico, vivendo virtudes numa dimensão prática e racional, suprimira todas as paixões, fontes da dor, engano e confusão, pelo domínio de sua "natureza interior". O completo domínio das paixões leva as pessoas à "Ataraxia", a completa contemplação interior. O estoicismo é, portanto, um subjetivismo moral, e individualmente se torna o refúgio do grego dominado. É universalista enquanto exige a razão e a sabedoria como distinção de todo homem pensante. O sábio estóico não teme a morte nem os deuses - vive para si mesmo. O cristianismo incorpora a moral e o universalismo dos estóicos.


Já o epicurismo, que se forma a partir das idéias de Epicuro, abre uma outra perspectiva embora igualmente moralizante e individualista. Afirma que o fim único da existência é o prazer, não compreendendo por isso o conceito de "pecado" e "devassidão" cristão, mas o completo ajustamento às leis naturais. O homem deve fugir de todas as situações de dor e sofrimento (páthos) até atingir a completa imperturbabilidade pessoal (apatia), que consiste em "não-sofrer". Deve cultivar a amizade universal - filia - e fugir das fontes de sofrimento que são a religião e a política. Divide e classifica os prazeres em:


* naturais e necessários - comer, beber.

* naturais e não-necessários - vestir, escolher certo alimento.

* não-naturais e não-necessários - o poder e a crença


Classifica as formas de prazer, dos sentidos, do gosto, dos sons e do apetite, do amor e da contemplação que fazem a felicidade (eudaimonia) do homem. O confronto com o cristianismo vai descaracterizar o epicurismo, além da própria razão platônica revigorada em Plotino.


Embora de menor influência, os cínicos e os céticos, onde destaca-se como precursor Diógenes, pautam-se por uma completa crítica social, aos deuses, aos costumes, ao poder, à justiça, e à própria Filosofia. É mais um completo subjetivismo radical que chega a negar a objetividade do mundo, fruto do desespero e da crise Antiga.

Plotino (205-270 d.C.) retoma o pensamento de Platão e acrescenta-lhe uma estrutura mística: o conceito de Nóus, uma inteligência organizadora do mundo e a idéia de um emanacionismo divino da matéria. É o último dos grandes filósofos gregos. O período decadente da filosofia grega corresponde ao declínio da sociedade da Grécia.


O período decadente e o cristianismo


Alguns paralelos nos permitem compreender a decadência do Império Romano e o êxito do cristianismo.


O fim das fronteiras regionais do mundo antigo é o helenismo, a expansão do modus vivendi grego imposto ao resto do mundo conhecido, através das conquistas de Alexandre Magno (séculos III e II a.C.). Embora a desintegração deste império se dê mais rápido ainda que a sua constituição, o fato é que ele tinha aberto uma nova compreensão do mundo, mais universalista e etnocêntrica, provocando profundas crises e transformações. Os romanos irão à esteira do império helênico. Mas cabe ressaltar aqui, que com Alexandre, as cidades gregas perdem sua autonomia, são obrigadas a pagar pesados impostos e têm seus exércitos e funções administrativas básicas subordinadas aos grupos ligados ao “conquistador”.


Vendo frustradas as possibilidades políticas, a democracia corrompida pela tirania, a pólis destruída pela força, aliadas ao cada vez maior intercâmbio comercial e com influências do Oriente helenizado, o grego desenvolve um retorno ao misticismo, o que geralmente ocorre em épocas de crise, ao mesmo tempo em que cria um tipo de sentimento de pessimismo e justificação, resistência e negação da realidade em que vive. Isso explicaria os diversos movimentos de idéias e seitas morais que surgem nesta época (séc. II a.C.), nas diversas cidades gregas: o ceticismo, o epicurismo e o estoicismo. A “polis” grega percebe o seu fim e o cidadão grego volta-se para seu próprio interior, para si mesmo, descrente e indefeso diante da enormidade do Império e da fatalidade histórica da dominação e perda da liberdade política. Descrente dos deuses, da mitologia e dos heróis, descrente da “polis”, da Justiça e do Bem, da filia política e da própria Filosofia, o grego volta-se para a sua natureza interior. Já não pesquisa o princípio da natureza (physis), ou o princípio da realidade. Refugia-se no misticismo e num conceito de “indivíduo” exigindo que esta síntese lhe proporcione a felicidade pessoal que compense a perda da liberdade política. O grego deste período quer tornar-se auto-suficiente, realizar em si o ideal da autarkéia, a completa autonomia e despojamento individual. Já não se sente um cidadão de uma determinada pólis, da qual antes se orgulhava; ao contrário, quer desprender-se de todos os laços familiares, religiosos ou que pertençam a uma determinada cidadania. Esta filosofia tem em comum um retorno ao ideal do sábio, como homem universal, cidadão do mundo, sem qualquer característica particularizante ou “nacional”.


O ceticismo prega a indiferença teórica e prática. O ideal sábio será a completa e absoluta imperturbabilidade, o despojamento total e o domínio das “paixões internas” até atingir a ataraxia. Os céticos desenvolvem um sentimento de relativização de tudo, tanto para com os usos e costumes, a moral, como para o próprio Conhecimento. Epicuro (séc. II a.C.) prega o Ateísmo, o universalismo (o ideal do homem sem pátria) o individualismo, mas de uma maneira ainda mais explícita do que os céticos. Não há deuses nem Verdades pelas quais se deva viver ou morrer. O ateísmo e a descrença é, para ele, condição de felicidade humana. O que deve fazer o Homem, segundo Epicuro? Fugir de todo sofrimento, paixão e perturbação (páthos). O homem deve viver para buscar o Prazer. Contudo é preciso observar que este conceito de “prazer” em Epicuro não é o de “libertinagem” como nos apresentou a historiografia filosófica criada pela Igreja. O prazer epicurista tem uma conotação racional, o prazer é a contemplação absoluta, a serenidade e a fuga de todo sofrimento. Epicuro aconselha a “fugir da política e da religião que só provocam ilusões e sofrimento”, como já dissemos anteriormente.


Epicuro liberta o homem da fatalidade cíclica grega. Faz do homem senhor de sua própria conduta e lhe dá a responsabilidade de conquistar a sua ataraxia individual (Eudaimonia). Já os Estóicos radicalizaram estas características: todos os homens podem ser sábios desde que dediquem-se às virtudes. O principal meio de se conseguir a imperturbabilidade é viver de acordo com a Razão. O sábio estóico deve abandonar a família, condição social, pátria, raça, etc... e por-se na busca na Sabedoria que é viver de acordo com a reta razão. O que identifica a todos os homens é que todos são portadores da razão e estão aptos à vivência da Virtude e Perfeição, cidadãos do mesmo Cosmos.


É também conhecido o episódio de Diógenes Laércio, que anda pelas ruas da cidade procurando, de vela acesa na mão e durante o dia, “um Homem”, numa atitude ferozmente crítica que demonstra a decadência do ideal grego de Homem, seja guerreiro, atleta ou legislador. Há um sentimento de descrédito e pessimismo, próprio de épocas de crise. Se nos aventurássemos pelo terreno da história teríamos muitos outros elementos a acrescentar: a grande massa de escravos gerada pela conquista, o sincretismo cultural entre os povos dominados, as tensões dos grupos dominantes e o modo de impor seu modelo cultural e social e as tantas formas de resistência, etc. Limitamo-nos, porém, ao nível das idéias que, embora não sejam mero reflexo das contradições econômicas, estão imbricadas no processo. Contudo, nossa compreensão não é linear nem causal, e a forma desta compreensão obedece a um critério metodológico.


Vimos que as filosofias do chamado período decadente já estabelecem duas bases fundamentais da posterior síntese cristã: o universalismo e a interioridade. Estas filosofias demonstram que o cidadão grego e depois romano procurava numa interioridade abstrata o refúgio e a compensação ou satisfação daquilo que a realidade já não lhe proporcionava. Um outro elemento que pode ter provocado e difundido este espírito universalista é o uso da língua grega tornada comum e popular, a Koiné. Este uso será fator de maior sincretismo ainda entre os povos colonizados pelos dois grandes impérios. Juntem-se a isto as diversas seitas místico-filosóficas das quais destacamos o neoplatonismo. Plotino prega a libertação do corpo, propõe o ideal do Bem Supremo como objeto de Amor e o Uno (Nous) como demiurgo do Universo. O Objeto da “alma humana” é fundir-se a este “deus filosófico” pela contemplação e êxtase. Para Plotino, que será depois assimilado por Santo Agostinho, a filosofia já não é mais uma pesquisa sobre o mundo (pré-socráticos) ou sobre o homem e a pólis (Sócrates); nem ainda a prática cívico-poética (Aristóteles), mas sim a aceitação de uma realidade divina e providente, da qual todos fomos gerados por emanação. Deste monismo emancionista grego ao monoteísmo semita, ao Deus pai e providente é uma faísca.


A ideologia cristã


É neste palco que surge o cristianismo, pregando, a partir da periferia do mundo de então, uma nova ideologia, uma "Boa Nova", que tinha muita atração sobre as massas, sobretudo as mais pobres. Pregando em língua grega em todos os grandes centros, o Apóstolo Paulo consolida um novo modelo de cristianismo que difere do cristianismo Ortodoxo original, circunscrito em Jerusalém e aos judeus. A grande aceitação do cristianismo será entre os gregos e romanos, os gentios, e não os “depositários e filhos da Promessa”.


Opondo-se ao pensamento grego racionalista e teórico, o pensamento semita afirmará a historicidade e dramaticidade da vida humana, o sujeito, a pessoa, a consciência, o sentimento, a irreversibilidade do tempo, a Providência de Deus Pai e a salvação para todos por um gesto misteriosamente eficaz de um “Deus-Homem”, Cristo. Esta era a “Boa Nova” (em grego Evangélion) anunciada de cidade em cidade e que atraía milhares de adeptos bem como incomodava os círculos do poder.


Em Roma, o cristianismo emancipa-se depois de três séculos de contradições e perseguições. Qual seria o perigo que ele representava? Outra vez deixaremos as causas mais históricas e específicas para determos-nos em dois pontos: a pregação cristã e o culto a Christós. A pregação cristã era dirigida, sobretudo a periferia de Roma. A estes povos dominados, massacrados, tidos como “não-gente” pela ideologia da superioridade romana; explorados, escravizados e constantemente ameaçados, o cristianismo prega: a igualdade de todos os homens, a filiação divina de todos, a criação e a paterna providência de Deus, a salvação de todos e a ressurreição, uma outra vida para os sofridos e pobres, a caridade para com o próximo e, sobretudo a repartição das riquezas, “conditio sine qua non”, para a conversão à comunidade “dos eleitos”. Afora toda a mística dos grupos perseguidos.


Esta plataforma pregada com a tenacidade e o testemunho da morte (Pedro e Paulo morrem em Roma crucificados e decapitados) tem arrasador e explosivo efeito. As perseguições aos cristãos são, sobretudo, pelo perigo que a sua pregação acarretava na decadente Roma dos séculos I e II d.C.. E o outro ponto importante é a pertença a uma comunidade, uma identidade religiosa onde todos “tinham tudo em comum e dividiam seus bens com alegria de modo que não havia necessitados entre eles”.


O segundo ponto é o culto ao Christós, que já é um título divino que os cristão tinham dado a Jesus de Nazaré, o Jesus histórico. Afirmar que o Jesus de Nazaré, histórico, é o “Cristós” do universo e da sua vida é o primeiro ato da fé cristã, libertando-se do Judaísmo. Mas o importante é que o culto a Cristo é a negação do culto ao Augusto, título igualmente divino e prerrogativa de todos os Césares a partir de Otávio, que instituiu este culto, para todo o império, como suporte ideológico-político de sua dominação, paralelo ao culto dos demais deuses do panteão romano copiado dos gregos, Detenhamos-nos no seu aspecto político-religioso. Afirmar que o sol não era deus significava deixar inúmeros templos vazios e sacerdotes sem função, e mesmo deixar o Exército sem proteção. Afirmar que o imperador não é Deus é subversão política que as leis classificavam como crime de morte. Dizer que o imperador não é Deus é negar a sua efígie na moeda que corre, é negar os valores desta sociedade da qual ele é o símbolo e a sanção sagrada. Tudo isso é ser subversivo e as camadas dominantes rapidamente perceberam isto. Mas as perseguições, aliadas a outras causas internas e externas, vão acelerar o processo de decadência, ou melhor, superação do império romano. Do ano 50, quando chegou a Roma, o cristianismo sofrerá catorze grandes perseguições, até que em 313 é proclamada “religião oficial do Estado” pelo imperador Constantino. Começa então uma nova época para o cristianismo, a simbiose entre o poder político e religioso que vai gerar a cristandade medieval. Era a superação da cultura romana singrada em sua interioridade e o surgimento de nova síntese cultural: a “cristianitas”, que se opunha à superada “romanitas”.


Nos dois séculos seguintes, IV e V, um outro fenômeno acontece ao nível da religião (comunidade) e do império. Na comunidade surge uma crescente categoria que usurpa cada vez mais os poderes religiosos comunitários e que concentra os ministérios e funções em suas mãos: o clero. Desenvolvem uma ideologia (teologia) de justificação da função (O Cristo cabeça e a figura do Pastor) e aliam-se cada vez mais aos grupos dominantes. Santo Agostinho é um dos teóricos deste movimento, propondo a divisão do poder em seu livro “Cidade de Deus e Cidade dos Homens”, duas figuras básicas para explicar o poder da igreja e do Imperador. O papa (bispo de Roma) com a justificação ideológica do primado de Pedro, toma o poder sobre os demais bispos e se configura em um novo “imperador” com vestes, corte, título, tiara e cetro (báculo).


O triunfo histórico do cristianismo


Quando o Império Romano soçobra sobre os ataques dos povos bárbaros, a Igreja Católica já tem poder suficiente para empreender a catequese destes povos. Faz do chefe bárbaro um imperador e impõe sobre ele a doutrina cristã, erigindo-se como a nova realidade do mundo: A Idade Média.


A Filosofia Grega – cronologia

1. O Período Pré-Socrático


Desde o berço da Filosofia, em Mileto (séc. IV a.C.) até Sócrates. Buscam o princípio constitutivo do universo. São chamados de Físicos. Abrange também o movimento sofista na estruturação da “pólis” grega. O princípio da identidade e da contradição. O que é o ser?


2. Período Clássico


Sócrates (469-399 a.C.) – A preocupação com o homem e com o significado da existência humana. O que é o conhecimento? A busca do diálogo, a ironia e a maiêutica como métodos. O perfil do filósofo. O exercício da ironia, a crítica das tradições, os usos e costumes, do próprio regime democrático grego, decretaram a sua morte por “não acreditar nos deuses e corromper a juventude”.


Platão (428-327 a.C.) O dualismo grego é sacralizado: o sensível e o espiritual, o bem e o mal, a unidade e a pluralidade. O mundo das sombras e o mundo das idéias. O mito da caverna, o Bem Supremo. A pólis exige Justiça. A “paidéia” prepara o cidadão para a “polis”. O filósofo é o mediador entre o sábio e o ignorante.

Aristóteles (384-322 a.C.) – Historiador e sistematizador de todo o pensamento grego anterior. É o criador da lógica formal e sistematizador das ciências no Organon (física, metafísica, lógica, matemática, pscicologia, antropologia, ética, política etc). É tido como o maior dos filósofos gregos e um dos maiores da história da filosofia universal. Marca o apogeu da filosofia grega.


3. Período Decadente


É composto por várias escolas que surgem com a desintegração do império helenista, a ruína da “pólis” grega e o poderio crescente dos romanos., Entre estas escolas destacamos: 2.3.1 – O helenismo 2.3.2 – O ceticismo 2.3.3 – O epicurismo 2.3.4 – Os cínicos 2.3.5 – O estoicismo 2.3.6 – O neoplatonismo


“Repensando a filosofia platônica, o neoplatonismo arremata o pensamento grego, dominando a filosofia patrística e medieval, até o séc. XIII d.C. quando sua influência é substituída por Aristóteles. A filosofia grega não é apenas um período ou uma época no desenvolvimento de um processo histórico. É a origem e a matriz de toda a filosofia e de todo desenvolvimento ulterior do pensamento europeu. Descobrir a razão, o “Logos”, com a essência do mundo e do homem gregos criaram as categorias que contribuíram para o advento da ciência e da técnica, e a conseqüente universalização do espírito ocidental” (Mirador, p. 4.614)


A Filosofia Romana


É um conjunto de escolas e seitas filosóficas no período de transição do paganismo ao cristianismo. Seu elemento é a “Koiné” que realiza o sincretismo grego – romano – judaico – oriental. Destacamos:


* O estoicismo – ascese cívica e política

* O epicurismo - a busca da ataraxia e da aponia. O prazer é o fim da vida


Legado da Grécia Antiga


A cultura da Grécia Antiga é considerada a base da cultura da civilização ocidental. A cultura grega exerceu poderosa influência sobre os romanos, que se encarregaram de repassá-la a diversas partes da Europa. A civilização grega antiga teve influência na linguagem, na política, no sistema educacional, na filosofia, na ciência, na tecnologia, na arte e na arquitetura moderna, particularmente durante a renascença da Europa ocidental e durante os diversos reviveres neoclássicos dos séculos XVIII e XIX, na Europa e Américas.


Conceitos como cidadania e democracia são gregos, ou pelo menos de pleno desenvolvimento na mão dos gregos. Qualquer história da Grécia Antiga requer cautela na consulta a fontes. Os historiadores e escritores políticos cujos trabalhos sobreviveram ao tempo eram, em sua maioria, atenienses ou pró-atenienses, e todos conservadores. Por isso se conhece melhor a história de Atenas do que a história das outras cidades; além disso, esses homens concentraram seus trabalhos mais em aspectos políticos (e militares e diplomáticos, desdobramentos daqueles), ignorando o que veio a se conhecer modernamente por história econômica e social. Toda a história da Grécia antiga precisa dar atenção à condução parcial pelas fontes.

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